O universo feminino antes do 25 de Abril tinha 2 tipos de mulheres, as senhoras e as outras.
As senhoras eram as mães de família, as outras as que trabalhavam.
A imagem tradicional da mulher era a dona de casa, do lar, que cuidava dos filhos, tratava da casa e obedecia ao marido, submissa e prendada.
Já nessa altura se debatia o fim da família tradicional, que se devia manter a estabilidade do casal, da nação e dos bons costumes.
Trabalho para essas era só os da igreja, a caridadezinha, os chás e as vendas de Natal.
Mulher que trabalhava ia roubar o lugar do homem, a quem competia o papel de responsável económico do lar.
As outras eram donas de casa que pobres ou por opção, tinham de trabalhar. As prostitutas eram um universo paralelo, não era considerado trabalho, e ainda não o é hoje.
A mulher passava por tola, incapaz de decidir, entre o pai e o marido, e mesmo as que ficavam para tias eram vigiadas, não fosse o diabo tecê-las, e nem as freiras escapavam.
A Constituição de 1933 dizia que todos os cidadãos eram iguais parente a lei “salvas quanto á mulher, as diferenças resultantes da sua natureza, e do bem da família”.
O pai e depois o marido representavam a mulher em todos os actos, na urna de voto, na administração dos bens. Não podia ausentar-se sem autorização do marido, e ele podia ler a sua correspondência, mas se ela o fizesse podia ser presa.
Igreja, cozinha e família eram o seu mundo.
Em relação à educação era ouvida, mas o marido não tinha que seguir a sua opinião.
E o marido podia matar a mulher em flagrante delito de adultério até aos anos 60.
A Guerra Colonial veio mudar tudo, a mulher ganhou espaço que o homem deixava vazio. Era preciso preencher o espaço no mercado de trabalho, deixados pelos homens que partiam para a guerra e para o estrangeiro.
Salário igual para trabalho igual.
A Lei Portuguesa consagra este princípio desde 1969.
Simplesmente, toda a gente sabe, a prática não é assim.
Nos anos 70, as mulheres ganhavam menos 50% do que os homens para o mesmo trabalho.
Em 1973, nos sítios onde a maioria dos trabalhadores eram mulheres, tanto os salários delas eram mais baixos, mas também os dos homens.
Em 1976 ainda se justificava o facto por as mulheres trabalharem menos que os homens.
A entrada da mulher no mercado do trabalho veio colocar problemas na estrutura social, mas também trouxe factos positivos.
O mais visível foi o da diminuição da mortalidade infantil. Em 1961 morriam 88 crianças em cada 1 000. Em 1972 desceu para 41. Uma prova da melhoria da qualidade de vida das famílias.
A doença tem remédios, a morte não