quarta-feira, 15 de setembro de 2010

19 de Maio de 1971.
Os trabalhadores da tipografia do Diário de Noticias faziam greve, porque os seus colegas do turno nocturno iam perder os respectivos turnos e a respectiva remuneração.

Greves e paralisações de trabalho eram considerados actos subversivos, ainda por cima num jornal com direcção do governo.
Por volta das 23 horas, e sem que ninguém no interior do edifício se apercebesse, a PIDE, chamada não se sabe por quem, fecha os acessos à Rua Rodrigues Sampaio.
Trouxe ambulâncias a prever resistência e feridos. Ocupou o hotel em frente com armas apontadas para as janelas da tipografia.

Entraram Pides de armas na mão, sem pedir licença, coisa a que não estavam habituados a pedir. Perguntaram aos tipógrafos o porquê da paralisação.
A PIDE manda-os trabalhar ou vão todos presos. Os tipógrafos escolhem ir presos.
O chefe da redacção, João Coito, e 3 jornalistas vão falar com o inspector da PIDE.
Os tipógrafos colocam-se em posição e arquitectam um plano, para executar se o caso desse para o torto, um coloca-se junto ao quadro para apagar as luzes e, com barras de ferro de chumbo usadas nas caldeiras, partirem a cabeça aos PIDES, ignorando as metralhadoras que os esperavam.

O caso acabou por se resolver a bem, pois o jornal não sair no dia seguinte, mesmo com a prisão dos tipógrafos, não era bem visto pelo regime.
De tudo isto saiu o reconhecimento do trabalho nocturno e o seu pagamento suplementar de 25%, como previa a OIT.
A lei saiu e bem ficaram os trabalhadores á espera do fim do mês, para o patronato a lei foi para esquecer…

Poderá hoje o simples facto de um cidadão querer usufruir dos seus direitos parecer banal e egoísta. Mas ainda hoje existem trabalhadores privados desses direitos e do direito a reivindicá-los, por receio de represálias, ou por ineficácia da justiça e das organizações e instituições que têm por dever protegê-los.
E isto inclui os sindicatos.

Sem comentários: