Das coisas tristes que o mundo tem, são os homens sem pé no
seu tempo. Os desgraçados que aparecem assim, cedo de mais ou tarde de mais,
lembram-me na vida terras de ninguém, onde não há paz possível.
A cada época corresponde um certo tipo humano. A Idade Média
tinha como valores Aristóteles e os doutores da Igreja
Neste trágico século vinte, sem qualquer sério conteúdo
ideológico, sem nenhuma espécie de grandeza fora do visceral, que serenidade
interior poderá ter alguém alicerçado em valores religiosos, estéticos, morais,
ou outros? Nenhuma. Entre o abismo da sua impossibilidade natural de deixar de
ser o que é. Todos se devem lembrar de Romain Rolland a erguer a voz impotente
contra a guerra de 14. Sabemos o que valeu o seu grito. Foi só o tempo de
disparar o primeiro canhão. O protesto, como um gemido inútil, ficou à
retaguarda, abafado pelo estrépito dos que passavam. É a eterna e triste lei
das realidades. Tão eterna e tão triste, que até passando do individual para o
colectivo ela é verdadeira.
Veja-se o caso em relação a dois continentes, a Europa e a
América, por exemplo.
Teima a Europa, culta, velha, experiente, mas anacrónica, em
que a vida dos povos é sobretudo história. Que, por isso, o facho da autêntica
civilização é seu, e só na sua posse deve caminhar. Tudo verdades como punhos.
Mas o certo é que o facho lhe está dia-a-dia a morrer nas mãos e a passar para
as mãos selvagens dos seus colonos. Com a mesma luminosidade? Evidentemente que
não, mas que importa ? A vida não se move por acções lógicas. Move-se por
imponderáveis, e sobretudo pela força dos factores. O homem que o nosso século
pede não é o que lê, o que se aprofunda a cavar em si. É um ser biológico
perfeito, no sentido corpóreo e psíquico duma abelha. A natureza dos favos é
variável, claro está, conforme as necessidades de cada hora. Há pouco tempo
ainda era um simples e inofensivo automóvel; neste momento o casulo é um tanque
ou um avião. Por isso, a que propósito seria qualquer céptico em matéria de
parafusos um representante actual da nossa civilização? Ver uma Grécia escrava de
Roma é tão natural como ver um Unamuno perdido na Espanha de 36.
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