ISTO DAVA UM FILME...
Duarte Lima
A revista Sábado dedica oito páginas a Duarte Lima, desde o
tempo em que, órfão de pai aos 11 anos, ajudava a mãe a vender peixe em Miranda
do Douro.
À beira de completar 56 anos (Novembro), Duarte Lima
tornou-se um homem imensamente rico. A investigação de António José Vilela e
Maria Henrique Espada está recheada de detalhes picantes.
Na sua casa da Av Visconde de Valmor, em Lisboa, Duarte Lima
dava jantares impressionantes, confeccionados in situ por Luís Suspiro; no fim
do ágape, o chef vinha à sala explicar aos convidados --
entre outros, Manuel Maria Carrilho, Ricardo Salgado, João Rendeiro,
Horácio Roque, Adriano Moreira e José Sócrates
-- a génese das suas criações.
Ângelo Correia, que o lançou na política em 1981, nunca foi
convidado para esses jantares.
O andar da Visconde de Valmor foi decorado por Graça
Viterbo: a decoradora cobrou 705 mil euros.
Quando entrou para a Universidade Católica, graças a uma
bolsa que o isentou das propinas, foi ignorado pelos colegas: era pobre,
vestia-se mal e vinha da província. Só Margarida Marante se aproximou dele.
Duarte Lima oferecia-lhe alheiras confeccionadas pela mãe.
Em 1980 já era maestro do coro da Católica. Pacheco Pereira
e Santana Lopes assistiam embevecidos aos seus concertos de órgão.
O estágio de advocacia foi feito no escritório do socialista
José Lamego, então casado com Assunção Esteves, actual presidenta da AR.
O primeiro casamento (1982) foi celebrado pelo bispo de
Bragança.
Em 1983 chegou a deputado e, em 1991, a líder parlamentar e
vice-presidente do PSD. Nos anos 1980-90 era das poucas pessoas a quem Cavaco
atendia o telefone a qualquer hora.
Até que, em 1994, o Indy, então dirigido por Paulo Portas,
obrigou o Ministério Público a investigar as suas contas. Demitiu-se de cargos
políticos e aguardou a conclusão do processo.
Com o assunto arrumado, candidatou-se em 1998 à Distrital de
Lisboa do PSD. Ganhou, derrotanto Passos Coelho e Pacheco Pereira. A leucemia
afastou-o do cargo.
Volta ao Parlamento por dois mandatos: 1999-2002 e
2005-2009.
Segundo a revista, Duarte Lima depositou nas suas contas,
entre 1986 e 1994, mais de cinco milhões de euros, parte considerável (25%) em
cash.
É membro da Comissão de Ética do Instituto de Oncologia de
Lisboa e fundou a Associação Portuguesa Contra a Leucemia.
Agora é o principal suspeito do assassinato de Rosalina
Ribeiro.
Nada disto me impressiona, excepto o facto de Duarte Lima
ter obtido do BPN, em 2008, pouco antes da nacionalização do banco, um
empréstimo de 6,6 milhões de euros, «contraído sem a apresentação de qualquer
garantia».
O affaire Duarte Lima é um caso de polícia. Mas o affaire
BPN, sendo também um caso de polícia, é sobretudo um assunto de Estado. E
nenhum jornal ou revista investiu ainda o bastante para o dilucidar.
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