Bruxelas vive em cor-de-rosa; Europa a preto-e-branco
A Comissão Europeia gastou mais de 9 milhões de euros entre 2006 e 2010 em limusinas, viagens de jacto privado - quase 7 milhões de euros - e em férias em resorts de luxo para comissários e respectivas famílias. A denúncia surgiu ontem pela mão do "Daily Telegraph", que cita uma investigação do Bureau of Investigative Journalism (BIJ), iniciativa sem fins lucrativos que se dedica a promover a investigação jornalística. Este relatório sobre gastos de luxo que saiu poucos dias após a Comissão Europeia ter requisitado um aumento de 4,9% do seu orçamento.
"O que fica bem claro é que a Comissão pode cortar nos gastos em vez de andar a pedir mais dinheiro aos governos nacionais", atirou David Lidington, ministro para a Europa do Reino Unido, ouvido pelo "Telegraph". "Os contribuintes por toda a Europa enfrentam decisões duras sobre os seus próprios orçamentos familiares e acho que chegou a altura de alguém na Comissão olhar com atenção para as suas prioridades na despesa", concluiu.
Livin'' la vida loca Papua Nova Guiné, Gana ou Vietname foram alguns dos destinos de férias eleitos por comissários europeus e respectivas famílias durante 2009, tendo as contas destas estadas de luxo sido apresentadas em Bruxelas, segundo relata o BIJ. Noutro apontamento, o Bureau conta que Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, precisou de gastar 28 mil euros em Setembro de 2009 numa estada de quatro noites em Nova Iorque, onde se deslocou com uma equipa de oito assistentes.
A suíte do hotel eleito pelo ex--primeiro-ministro português custou 780 euros por noite, isto apesar do limite de 275 euros/noite imposto pelo regulamento da própria Comissão. Questionada pelo Bureau of Investigative Journalism, a CE culpou a inflação pontual de preços nos hotéis naquela cidade - a estada foi durante a Cimeira das Alterações Climáticas da Organização das Nações Unidas.
O relatório continua. Só em "cocktail parties" com o selo da Comissão Europeia foram gastos 300 mil euros durante 2009, 75 mil dos quais em Amesterdão e numa noite "cheia de maravilhas como nenhuma outra, tecnologia state-of-the-art, arte desafiante, cocktails trendy, performances surpreendentes e DJ de topo". Na lista de festas patrocinadas pela Comissão encontra-se também uma realizada em Lisboa: um cocktail de 6,3 mil euros no Dia da Europa. No preço está incluído o aluguer do Teatro D. Maria (1500 euros), o serviço de catering da Casa da Comida (1186 euros) e o recurso à empresa de restauração Simebeca (4884 euros).
Outro tipo de despesa analisado pelo BIJ foram as ofertas aos oradores de eventos da Comissão Europeia, que muitas vezes passavam por jóias da Tiffany. Também o recurso a limusinas por parte dos comissários de Bruxelas - um custo de 110 mil euros -, surgem na compilação.
Bruxelas contra-ataca A CE reagiu à divulgação dos valores afirmando que "os dados foram totalmente retirados do contexto", sublinhando que "a Comissão não desbarata dinheiro em jactos", já que o uso dos mesmos, diz, "é fortemente regulado e só é aceite quando não há alternativas". "É difícil falar de todas as incorrecções na investigação do Bureau", concluiu um porta-voz de Bruxelas.
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